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Quando não há nada a fazer

28 de março de 2016
Tempo de leitura: 1 minutos

Doutores da Alegria

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Não diga a pacientes com câncer o que eles deveriam estar fazendo para se curar.

Essa foi a ideia desenvolvida pelo jornalista Steven Thrasher em seu artigo desta semana no jornal britânico The Guardian. A partir de experiências pessoais, em sua família e com amigos, ele fala sobre conselhos e recomendações pseudocientíficas que as pessoas recebiam durante o tratamento.

“Ela não sabia que se tomasse suco de limão todos os dias poderia acabar com as células cancerígenas? Que se assistisse ao documentário O milagre de Gerson ficaria bem? Que se estivesse disposta a tomar vitaminas, ou comer comida crua, ou fazer ioga, ou olhar para o lado positivo das coisas sua doença iria embora?”

Thrasher acredita que esses conselhos, “curas simplistas, não comprovadas ou fantásticas”, são um ato de violência. Os procedimentos médicos modernos é que realmente contribuem com o tratamento do câncer. Ao recomendar o que uma pessoa com doente deve fazer, “você está dizendo: eu não deixaria isso acontecer comigo do jeito que você está deixando acontecer com você – uma maneira  sorrateira e prejudicial de lidar com seu próprio medo da morte”.

O conselho do jornalista – sim, Thrasher se permite oferecer um – é para apenas confiar em si mesmo no desconhecido. “Uma das últimas e mais assustadoras lições que aprendi com minha irmã em seus dias finais foi a importância de estar com ela mesmo quando não havia nada para dizer ou fazer. É aterrorizante estar com um ente querido e admitir que você é impotente para impedir sua morte, mas pode ser o mais poderoso, tranquilo e amoroso presente que você pode dar.”

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Sem dúvida, é uma bela reflexão. Ao entrar em um quarto e encontrar uma criança acamada, não é a tarefa do palhaço compadecer o sofrimento alheio, sentir pena, e alimentado por este sentimento oferecer recomendações ao tratamento. Entramos pela possibilidade de que em nosso encontro experimentemos verdadeiramente a alegria – através de uma conversa, de uma troca de olhares, de uma história criada em conjunto, de um esbarrão na porta. Conselho, só se for besteirológico.

E quando a doença arrebata, muitas vezes somos chamados pelas crianças, pelos familiares ou pelos profissionais de saúde. E ali, no quarto ou na UTI, a máscara do palhaço pode cair e não há nada a dizer ou fazer, como aprendeu dolorosamente Steven Thrasher.

IMIP -  Lana Pinho_-31

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câncer, conselho, Medicina, morte, paciente, The Guardian, tratamento

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LIVRES PARA SORRIR | DIABETES, ESPORTE & NATUREZA
7 a
Daniel Ramalho
Daniel Ramalho
7 a

Caros doutores,
Muito obrigado por este post maravilhoso. Sou blogueiro de diabetes e este texto me inspirou uma reflexão que acabou gerando um post sobre algo que há muito queria abordar sobre o diabetes e não encontrava as palavras mais adequadas. Muito obrigado mesmo.
Sou diabético tipo 1 há quase 8 anos e amo muito o que faço, assim como vocês.
Se quiserem conferir o texto que vocês inspiraram, é só clicar no link: http://diabetesesporteenatureza.com.br/2016/03/29/livres-para-sorrir/

Grande abraço!!!
DANIEL RAMALHO
DIABETES, ESPORTE & NATUREZA

Fabiana Teixeira
Fabiana Teixeira
7 a

Texto incrível que reflete a real urgência do ser humano hoje em dia: ser e estar presente. Como nos votos de casamento “na saúde e na doença” é mais importante estarmos presentes com nossos queridos, tenham eles laços de sangue ou não, do que aquilo que pensamos que podemos dizer ou fazer para melhorar sua condição. Este mês faz dois anos que perdi meu pai para o câncer e posso dizer que estive com ele nos seus últimos dias, em casa e no hospital, contando piadas, fazendo palavras cruzadas, informando as novidades e sempre dizendo que o amava. Foi o… Leia mais »

Ludimila
Ludimila
7 a

Boa Tarde ! Eu Tbem tive uma experiência com a minha irma nos seus últimos dias e realmente o que vocês escreveram relatamo que sentimos como familiar e a impotência que sentimos em não poder fazer nada para ajudar. Minha irma faleceu em nov de 2014, sem sombra de duvida sai daquele hospital vendo a vida de outra maneira.

marilena
marilena
7 a

Tive essa experiência com meu marido que faleceu em novembro/14 no ICESP….realmente é muito difícil ver seu ente querido indo embora e nao poder fazer nada…..me senti muito impotente…o câncer é uma doença demolidora…..

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